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Água no Carnaval das cidades

Luiz Pladevall (*)

O Carnaval movimenta o território nacional e muitos municípios recebem milhões de foliões todos os anos. As cidades eleitas pelos turistas têm um grande desafio, principalmente para o abastecimento de água. Muitas delas enfrentam a escassez no abastecimento nesse período de festas carnavalescas devido ao aumento significativo da população flutuante.

O problema fica mais visível diante de um momento como esse, mas neste contexto fica evidente a necessidade de gestão dos recursos hídricos eficiente. O cenário de mudanças climáticas e escassez de água, cada vez mais frequente em várias regiões do mundo, faz desse bem finito uma das prioridades para garantir a nossa sobrevivência nas próximas décadas. O assunto se tornou agenda indispensável dos governos na definição dos melhores usos da água.

Apesar de contar com a sorte de possuir mais de 10% da água doce de todo o planeta, o Brasil ainda patina na gestão desse recurso, concentrado em 80% na bacia do rio Amazonas, que tem menos de 10% da população. O panorama atual exige pulso firme dos governos, principalmente nas regiões mais populosas do país. Localidades como São Paulo, Distrito Federal, Estados do Nordeste têm histórico de escassez de água nos últimos anos. Por outro lado, as enchentes também têm se tornado um problema frequente, como ocorreu recentemente em algumas regiões. As mudanças climáticas mostram que teremos que conviver com extremos em muitas partes do mundo.

Para resolver problemas complexos como esse, é necessária a participação de toda a sociedade. Estamos avançando com a revisão do marco legal do saneamento, que deverá ser votado em breve no parlamento brasileiro, mas o seu alcance é limitado na gestão dos recursos hídricos. O país demanda políticas públicas embasadas em um planejamento de curto, médio e longo prazos. O novo marco legal tem ainda passado a percepção de que a participação da iniciativa privada será a solução das nossas demandas de empreendimentos no setor. Sem sombra de dúvida, as companhias privadas têm papel de relevância no avanço do atendimento das demandas hídricas, mas o governo é quem deve se responsabilizar de formular políticas da complexa gestão dos recursos hídricos.

O principal ator da mudança de paradigmas é o governo brasileiro. O saneamento deve se tornar em uma política de Estado que perpasse governos e esteja embasada em um planejamento com fundamentos técnicos consistentes, capazes de oferecer um panorama detalhado das nossas demandas.

Cada vez mais presente, o debate sobre questões de sustentabilidade revela nosso fracasso de fazer a correta gestão dos nossos recursos. Hoje, governos, empresas e população já vislumbram os prejuízos que podemos ter com a falta de um planejamento adequado do uso das águas, das florestas, dos minérios, entre outros. O mundo quer um futuro melhor.

(*) Luiz Pladevall é engenheiro, presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).