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Eficiência para garantir água

Ricardo Mendes (*)

 

A gestão eficiente dos recursos hídricos se tornou um imperativo para garantir a regularidade do abastecimento para a população. A falta de água não é mais uma exclusividade das regiões áridas do Nordeste brasileiro. Ela já está presente nos grandes municípios do Sul, Sudeste, Centre Oeste, entre outras regiões do país.

 

Por outro lado, o esbanjamento de recursos hídricos nos sistemas de abastecimento das cidades brasileiras representa um contrassenso. A média de perdas chega a 38,45% de toda a água captada, tratada e potável. Além do desperdício do próprio líquido, todas as despesas inerentes ao processo – insumos como energia e produtos químicos – se perdem segundo dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) ano base 2018.

 

Infelizmente, o índice de perdas dos sistemas de abastecimento de água tem crescido nos últimos anos, saltando de 36,7% em 2014 para 38,45% em 2018. O Brasil também está distante das nações desenvolvidas nesse quesito. A Dinamarca lidera o ranking com o menor índice de perda (6,9%), seguida pela Austrália (10,3), Estados Unidos (12,8) e Reino Unido (20,6).

 

O Novo Marco Legal do Saneamento, aprovado neste ano pelo Congresso Nacional, traz metas para a redução de perdas de água até 2033 e vai impulsionar o setor de saneamento. As empresas estarão comprometidas com a busca de novas tecnologias, oferecendo soluções capazes de resolver um dos antigos problemas no sistema de abastecimento de água. Uma grande parcela dos municípios brasileiros conta com tubulações antigas, com muitos anos de uso, que reforçam o desperdício, entre outros problemas.

 

O planejamento de curto, médio e longo prazos deve ser um instrumento indutor do Novo Marco Legal do Saneamento. As companhias brasileiras têm expertise capaz de contribuir com novas soluções, melhorando a eficiência na prestação de serviços e garantindo a sustentabilidade financeira das operadoras de saneamento.

 

A reversão da curva do desperdício de água representaria uma economia significativa para o setor. Segundo cenário traçado pelo Instituto Trata Brasil, considerando as metas do Plansab (Plano Nacional de Saneamento Básico) com perdas médias em 31%, a economia pode alcançar R$ 13 bilhões até 2033. Uma versão mais otimista, mas ainda conservadora com perdas em 25%, os ganhos líquidos chegariam a R$ 22,8 bilhões.

 

A hora é de deixar o atraso no passado e avançar nos empreendimentos de saneamento básico, garantindo o abastecimento de água potável para 35 milhões de brasileiros que ainda não contam com esse serviço. A nova legislação vai contribuir para a significativa redução das desigualdades brasileiras, oferecendo para os cidadãos serviços de qualidade. A população merece ser bem atendida nas suas mais básicas necessidades diárias.

 

(*) Ricardo Lazzari Mendes, é presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente), engenheiro pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP e doutor em engenharia hidráulica e sanitária pela Escola Politécnica da USP.