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Impactos do saneamento na saúde

Luiz Pladevall (*)

Em tempos de pandemia, a ausência de saneamento adequado e falta de higiene são fatores que contribuem para a propagação da Covid-19, principalmente entre a população mais pobre do país. Com aproximadamente 100 milhões de brasileiros sem acesso à rede coletora e de tratamento de esgotos e outros 35 milhões de pessoas vivendo com falta de água tratada, o Brasil tem relegado a uma parcela significativa dos seus cidadãos uma vida de muitos riscos à saúde, que poderiam ser evitados com o avanço dos empreendimentos nesse setor.

Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 94% dos casos de diarreia no mundo são devidos à falta de acesso à água de qualidade e ao saneamento precário. Além dessa doença, a nossa realidade permite acrescentar enfermidades que têm forte proliferação hídrica como dengue, Chikungunya, esquistossomose, amebíase, hepatite infecciosa e cólera. Já a falta de água tratada impede que a população cumpra o protocolo mínimo de higiene para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. A mesma organização aponta ainda que para cada US$ 1 investido em saneamento, os governos economizam outros US$ 4 em saúde.

A ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental) acaba de divulgar o Ranking 2020, com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2018, o mais recente publicado pelo governo, e mostra que menos de 100 cidades brasileiras estão perto de atingir a universalização do saneamento básico.

O resultado do nosso atraso no setor aponta que mais de 40 mil internações foram causadas por doenças relacionadas a precariedade do saneamento básico no primeiro trimestre deste ano. As internações responderam, em média, por 4,2% dos leitos do SUS (Sistema Único de Saúde) no período, por cerca de três dias. O custo para a saúde chegou a R$ 16,1 milhões, sendo que a metade (46%) foi aplicada na região Norte.

O ranking da ABES considera os municípios que forneceram as informações ao SNIS – 1.857 localidades, que equivalem a 33% das cidades do país, mas concentram 70% da população. O estudo mostra que apenas 98 municípios foram classificados na melhor categoria, a de “rumo à universalização”. A maior parte delas (69,9%) está classificada na fase “empenho para universalização”.

Por isso, garantir acesso aos serviços de esgotamento sanitário e abastecimento de água potável é essencial para o desenvolvimento brasileiro nas próximas décadas. Os impactos na saúde talvez sejam a face mais visível da precariedade do saneamento no país. Porém, outros setores também são diretamente afetados como turismo, meio ambiente e industrialização. Avançar no saneamento é fazer do Brasil uma nação com melhor qualidade de vida para todos, com reflexos diretos na saúde e na economia nacional.

(*) Luiz Pladevall é presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).