Luiz Pladevall (*)
A retomada dos empreendimentos públicos e privados em saneamento básico pode ser uma das soluções para diminuir o forte impacto da queda da atividade econômica, provocada pela pandemia do novo coronavírus. Independentemente da aprovação do novo marco legal do saneamento, o setor tem demandas em todo território brasileiro.
A área de infraestrutura deve ser vista como fundamental para retomada do nosso crescimento no período pós-pandemia. Um levantamento do Projeto Infra2038 revela que, para o país chegar ao nível de 77% de estoque de infraestrutura, serão necessários recursos financeiros na ordem de R$ 8,7 trilhões em energia, saneamento, logística, entre outros. Uma parcela desse valor pode fazer uma grande diferença. O estudo mostra que 4,7 milhões de empregos podem ser criados com R$ 200 bilhões de investimentos.
As características inerentes ao setor de saneamento aponta que o retorno dos investimentos não será apenas na criação de trabalho e renda para milhões de brasileiros, mas também na queda significativa de doenças relacionadas a veiculação hídrica. O país tem urgência na redução das desigualdades provocadas pela falta de água tratada para 35 milhões de brasileiros e de esgotamento sanitário para outros 100 milhões de pessoas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para cada U$S 1 investido em saneamento, os governos economizam outros U$S 4 em saúde. Reverter esse quadro requer expressivos investimentos, que podem ocorrer com uma maior participação da iniciativa privada por meio das ferramentas já disponíveis como concessões, Parcerias Público Privadas (PPPs) entre outras.
Investir na diminuição de perdas, por exemplo, pode significar a redução de mais de R$ 10 bilhões de gastos em todo o território nacional, valor inclusive superior aos investimentos governamentais de alguns dos últimos anos de Norte a Sul do país. Os indicadores mostram uma média próxima a 40% de perdas de água tratada nos estados brasileiros. Para efeitos de comparação, nos EUA, as perdas chegam a 12,8% do total produzido e na Dinamarca, 6,9%.
Temos um trabalho muito grande para reduzir esse enorme desperdício de recursos hídricos, suficientes para abastecer aproximadamente 30% da população brasileira. Segundo dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), o desperdício de água tratada chega a 55,14% na região Norte, sendo 34,14% no Centro-Oeste brasileiro.
A redução de perdas demanda ainda o trabalho de revisão das redes. Hoje, 90% dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário não têm cadastros confiáveis. A maioria das cidades brasileiras dispõe de tubulações antigas, com mais de 70 anos de uso, que estão sujeitas a rompimentos a qualquer alteração de pressão. O brasileiro está, inclusive, acostumado a encontrar ruas pavimentadas com remendos resultantes do trabalho da companhia de água e esgoto.
O setor de saneamento traz boas oportunidades que, além de ajudar a impulsionar a economia, podem contribuir para reduzir significativamente despesas e oferecer um serviço com melhor qualidade para a população.
(*) Luiz Pladevall é presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).