Encontro promovido pelo Sinaenco recebeu cerca de 300 profissionais de várias áreas, em São Paulo
Especialistas do Brasil, Israel, Holanda e Portugal estiveram reunidos no 2º Seminário Internacional: A Era BIM, realizado em 22 de agosto, no Teatro Itália, em São Paulo (SP), para compartilhar experiências sobre a adoção da modelagem da informação na construção. O encontro foi promovido pelo Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva) e prestigiado por cerca de 300 participantes, entre profissionais de empresas de arquitetura e engenharia, agentes do setor público, representantes da indústria de softwares, pesquisadores e estudantes. O evento contou com apoio do Apecs.
A mesa “Indústria 4.0 e a Gestão de Facilities” foi a primeira do encontro. O arquiteto e urbanista Ricardo Codinhoto (Universidade de Bath/UK) apontou que o trabalho com BIM remete a uma agenda de sustentabilidade na indústria da construção civil:
“As edificações representam o maior consumo de energia na economia ao longo do ciclo de vida. O BIM traz a oportunidade de mudar o contexto do uso da energia nas edificações”. Por isso, é preciso gerar informações completas de todas as edificações para que o cliente possa fazer a gestão adequada: “Quando a gente está planejando, você está definindo como estes processos da manutenção estarão ocorrendo”, apontou o pesquisador.
O uso do BIM com ferramentas tradicionais é um processo natural com a adoção da modelagem da informação na construção, exemplificou José Carlos Lino, professor convidado e investigador em BIM na Universidade do Minho, em Portugal. Aos poucos, o uso da ferramenta vai sendo incorporado até o nível governamental de organização política e estratégica da corporação.
“Contratação BIM adequada é quase tudo”, afirmou Lino.
O engenheiro e consultor Hugo Mulder explicou que o avanço da tecnologia permite aumentar as possibilidades de gerenciamento dos prédios:
“Os computadores, com Inteligência Artificial em nuvem, podem apoiar esse gerenciamento de maneira que os prédios possam ser inteligentes”.
Para o engenheiro João Vicente Ferreira, Desenvolvedor de Negócios na Dessaut Systèmes pela América Latina, os desafios atuais com o uso do BIM estão conectados com a possibilidade de flexibilidade e automação. Segundo ele, “o Brasil exporta o estado da arte para resolver esse problema” por meio da indústria aeronáutica.
“Mudamos nossa mentalidade de um mundo baseado em arquivo para um mundo baseado em objetos”, analisa.
Incentivo Governamental
Durante os debates do tema “Estratégia BIM-BR e Normas sobre BIM”, os participantes puderam se integrar melhor sobre o assunto com Adriana Arruda Pessoa, coordenadora da Coordenação-Geral de Economia Digital e Produtividade Industrial do Ministério da Economia. Para o setor público, a questão de transparência tem enorme relevância e o BIM responde essa demanda.
“A estratégia governamental é promover um ambiente adequado ao investimento em BIM e sua difusão no país”, afirmou Adriana.
A coordenadora apresentou ainda as metas para a implantação da Estratégia Nacional de disseminação do BIM até 2021. Entre elas, está a adoção do BIM em projetos dos Programas Pilotos governamentais e aprimorar o marco legal e infralegal referente às compras para o uso extensivo da modelagem. Com isso, o governo projeta reduzir os custos dos empreendimentos em 9,7%. Como parte das ações dessa estratégia, o Diário Oficial da União (DOU) publicou, no dia 23 de agosto, o Decreto 9.983/2019 que institui o Comitê Gestor da Estratégia do BIM, órgão deliberativo destinado a implementar a Estratégia BIM BR e gerencia suas ações.
Rogério Moreira, coordenador da Comissão de Estudo Especial de Modelagem de Informação da Construção, a ABNT/CEE-134, apontou os avanços na normalização do BIM no Brasil, lembrando da sua importância para aplicação das tecnologias, com os impactos mercadológicos. Segundo ele, após todos os trabalhos, os participantes das comissões receberão o texto básico para leituras e comentários.
“Essa é nossa primeira contribuição, temos um time, que vamos acelerar as propostas”, afirmou.
No Brasil, a normalização BIM encontra-se no estágio de elaboração com previsão de conclusão do PNS (Programa de Normalização Setorial) atual entre 2019/2020, seguindo para difusão e ampla implementação de Normas Técnicas a partir de 2020/2021
Aplicação no setor público
Os trabalhos do período da tarde do 2º Seminário Internacional: A Era BIM começaram com as apresentações de “Cases de BIM de Infraestrutura”. Alexandre Fitzner do Nascimento, oficial do Exército Brasileiro, mostrou o projeto de adoção da modelagem da informação na gestão de imóveis, hospitais e unidades da instituição em 1.794 municípios do país. A partir dos levantamentos realizados, o próximo passo é integrar e operacionalizar o gerenciamento. Para ele, a gestão precisa ainda de um outro fator:
“Se você não considerar o ambiente natural construído, com informações sociais, culturas e econômica, não alcança os resultados”.
O arquiteto e urbanista Antonio Ivo Mainardi, supervisor e gestor do Núcleo BIM da Diretoria de Planejamento e Engenharia do Metrô de São Paulo, explicou que a companhia começou o uso do BIM em 2011.
“Estamos conseguindo melhorar o projeto com o uso do BIM. Hoje, temos dois contratos com a adoção da modelagem da informação”, ressaltou. Mainardi.
A construção do novo prédio da Fiocruz, em Minas Gerais, foi outro exemplo apresentado pelos arquitetos e urbanistas Silvia Araújo e Gustavo Guimarães. Segundo os palestrantes, o projeto básico do edifício contou com a participação de uma equipe multidisciplinar, incorporando todos os requisitos específicos das diversas engenharias. Com os resultados alcançados, a instituição avançou em outros projetos.
“A gente conseguiu melhorar nas licitações seguintes. Houve atribuição de peso maior para profissionais que já tiveram realização em BIM”, detalhou Silvia
Encerrando as apresentações de cases, o coordenador-geral de Modernização e Gestão Estratégica do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT), Washington Luke, revelou que o uso do BIM tem permitido ampliar a transparência no órgão.
“O desafio é internalizar o uso da metodologia no departamento. Hoje, 1.100 usuários cadastrados supervisionam as obras”, ressaltou o engenheiro.
O primeiro projeto piloto do DNIT para a implementação BIM é o Proarte, que prevê a reabilitação e manutenção de aproximadamente 8.000 pontes e viadutos distribuídos nos 55.000 quilômetros da malha rodoviária Federal sob a responsabilidade do departamento. Os próximos projetos estratégicos com foco BIM são: SGPLAN (Sistema de Gestão do Planejamento), que está em construção e oferece apoio à gestão do Planejamento e Programação de Investimentos realizando o gerenciamento dos estudos, projetos e intervenções em andamento no DNIT; Supra (Supervisão Rodoviária Avançada); e Integra, que é uma ferramenta responsável pela gestão estratégica dos empreendimentos da Autarquia e integra cada uma das disciplinas envolvidas.
Objetos BIM
“Bibliotecas de Objetos BIM” foi o assunto do encontro que contou com a participação da coordenadora de Difusão Tecnológica da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Talita Daher. Segundo ela, com a inclusão do BIM e outras ferramentas, a instituição prevê um aumento de produtividade na indústria da construção.
“Inteligência e inovação para o setor produtivo vão aumentar a eficiência das empresas na era da economia digital”, pontuou a palestrante.
O consultor e desenvolvedor de APIs Paulo Sena lembrou que, na América Latina, Brasil e Chile são os países mais engajados na implementação do BIM. Isso aumenta a capacidade competitiva brasileira perante os demais parceiros da região;
“O próximo passo é nos integrar e ver o que podemos fazer com essa integração. Tudo pensando de uma forma unificada”.
O setor privado tem ampliado o uso do BIM como forma de melhorar os serviços ofertados para os clientes, como a empresa Saint-Gobain Produtos para a Construção. O engenheiro Douglas Meirelles, responsável pela gestão e desenvolvimento do BIM na companhia, revelou que a oferta de serviços e soluções em BIM começou em 2015.
“A proposta é receber as demandas dos clientes e auxiliar nas escolhas dos produtos”, exemplificou Meirelles.
Aplicação no setor público
Os desafios da adoção da modelagem da informação governamental foi tema da mesa “Contratação e Implantação de BIM pelo setor Público”. O professor do Instituto de Tecnologia de Israel, Rafael Sacks, trouxe sugestões para o sucesso da implantação da ferramenta. Como exemplo, ele apontou as organizações que escrevem um guia e documentação para orientar as empresas contratadas além do preparo de lideranças para o uso do BIM.
“A coisa mais importante é que precisamos gerenciar conscientemente a informação”, ensinou Sacks.
O Estado de Santa Catarina foi um dos primeiros do país na utilização da metodologia.
“Nós entendemos que o BIM seria uma forma de minimizar parte dos problemas”, apontou o engenheiro Rafael Fernandes, diretor de Inovação e Padronização na Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade do Estado de Santa Catarina.
Além disso, Fernandes revelou outras vantagens:
“Se eu contratar bem, meus aditivos de prazo e valor serão reduzidos. Isso irá impactar nas obras entregues à sociedade”.
Para Virgínia Moura, da Secretaria de Planejamento e Coordenação de Teresina, o BIM abre um leque amplo para a administração pública.
“A experiência com o case, ainda em desenvolvimento, já trouxe um resultado comparativo em relação ao sistema atual de elaboração de projetos de uma escola padrão da Secretaria Municipal de Educação. Enquanto uma encontra-se há dois anos na fase de projetos – da concepção aos complementares – com 17 contratos que somam mais de R$ 400 mil, a Escola Case, iniciada em janeiro de 2019, foi entregue todos os projetos básicos, elaborado por equipe própria da prefeitura, e será dado início aos projetos executivos para licitar até o final deste ano”. Para ela, o BIM permite ainda ter uma ferramenta de gestão de processo: “Diminui desperdícios, elimina aditivos nas obras e, no futuro, vai controlar a manutenção dos ativos”.
O engenheiro Pedro Soethe, especialista técnico sênior da área de infraestrutura da Autodesk, revelou que 55% do retrabalho é causado por documentação desconectada e desatualizada. Segundo ele, a área de engenharia deve passar por um grande processo de digitalização:
“A tendência é que as representações serão cada vez mais segregadas. Então, tenho que deixar a representação de lado e pensar no próprio objeto”.