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Crise hídrica no horizonte

Luiz Pladevall (*)

 

Os brasileiros de várias regiões do país já enfrentaram as dificuldades impostas por uma crise hídrica. Também continua presente na memória da população da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) o período de falta d’água enfrentado a partir de 2014 na localidade. Os moradores que se deparam com essa situação precisam mudar hábitos e focar na economia de água. Mas o país não está livre de novos períodos sem disponibilidade suficiente de água, conforme aponta o Plano Nacional de Segurança Hídrica, recentemente divulgado pelo governo federal.

 

O documento alerta que aproximadamente 55 milhões de brasileiros, moradores de regiões urbanas, podem enfrentar situações de falta d’água em 2035, se nada for feito até lá para mudar esse cenário. Para evitar o pior, o país precisa investir R$ 27,5 bilhões nos próximos 15 anos em 99 projetos como sistemas adutores, barragens, canais e eixos de integração das bacias hidrográficas. Essas intervenções são fundamentais para aumentar a oferta de água nas regiões apontadas pelo levantamento.

 

Outras iniciativas também podem ajudar a reduzir os riscos de estresse hídrico, principalmente na RMSP. Um deles é um programa para a redução de perdas. O país ainda desperdiça água que recebe um tratamento muito dispendioso. A média nacional de perdas chega próximo a 40% do que é produzido. Para se ter uma comparação do nosso desperdício, vale lembrar que alguns países europeus registram perdas físicas da ordem de 6%. Para enfrentar o problema, inicialmente os municípios precisam contar com um cadastro completo e confiável da rede de abastecimento. Os operadores de sistemas de abastecimento de água no Brasil precisam investir pesado em melhorias operacionais e de gestão para a redução das perdas de água.

 

A gestão dos recursos hídricos deve ainda incentivar o reuso de água nas cidades. Alguns municípios já perceberam a importância de usar esse recurso para a limpeza de praças e irrigação de jardins. Essas medidas precisam inclusive ser ampliadas e até mesmo previstas em uma legislação, que contribua para incentivar também o reuso na agricultura, um dos setores que apresenta um dos maiores indicadores de consumo de água.

 

A falta d’água pode se tornar um dos grandes problemas para as próximas gerações. Por isso, as medidas preventivas precisam ser adotadas urgentemente. Caso contrário, corremos o risco de levar um futuro muito nebuloso para as futuras gerações.

 

(*) Luiz Pladevall é presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).